top of page
mauricio eca.png

Maurício Eça

Mauricio Eça é o maior produtor de videoclipes no Brasil. Não só pela quantidade produzida, assinando mais de 200 clipes, mas por apostar no apelo estético e na experimentação, abrindo espaço no audiovisual para estilos musicais que fugiam do radar do grande público nos anos 90.

 

Na última década Maurício Eça também apresentou grandes trabalhos no cinema, como diretor e roteirista em Apneia (2004), a na direção de Carrossel: O Filme e Carrossel: O Sumiço de Maria Joaquina, além dos recentes trabalhos O Menino que Matou Meus Pais e A Menina que Matou os Pais.

 

Conversamos com o Maurício sobre a relação com a Pitty e a parceria selada a partir do clipe de Máscara.

www.mauricioeca.com

  • Vimeo
  • Instagram

Em 1998 você já tinha dirigido Diário de um Detento dos Racionais, e ganhado um VMB de melhor videoclipe. Foi aqui o início do seu trabalho com direção de videoclipes? E como foi o contato da gravadora Deck trazendo uma cantora, até então desconhecia, para dirigir o primeiro clipe da banda?

O primeiro videoclipe que eu dirigi foi em 94/95, numa banda de metal feminina que chamava Volkanas. Depois eu fiz vários clipes de metal, tipo Viper, e aí eu comecei a fazer uns clipes como Virguloides (Bagulho no Bumba), e uma coisa que eu sempre fiz muito na minha carreira foi o primeiro clipe de artista novo. Que é uma coisa que eu acho que as gravadoras buscavam muitas vezes porque, enfim, eu também estava me iniciando como diretor e eu tinha muito muito tesão de me jogar.

 

Normalmente os primeiros clipes de um artista novo são de orçamentos baixos, e eu estava numa produtora que tinha uma certa estrutura, então dava para ter um valor de produção melhor ainda, mesmo com orçamento baixo. Então eu fiz o primeiro clipe de várias bandas tipo CPM22, Pitty e outros tantos.

Isso que eu tinha passado por uma época do Racionais com Diário de um Detendo, e naquela época vários outros grupos de hip hop me procuraram pra fazer clipe. Eu fiz muitos clipes de rap também. E aí alguns artistas de rock me procuraram por conta dos Racionais, por conta de ter uma cara um pouco mais ‘suja’ ou mais documental muitas vezes, ou a forma como eu estetizei o Diário de um Detento, a atitude mesmo. Com a gravadora Deck foi parecido.

Máscara teve a responsabilidade de ser a primeira música de trabalho do ACN, inclusive Pitty já relatou o desafio dessa escolha, por se tratar de una música longa, pesada e com trechos em inglês. Como foi o primeiro contato e as primeiras conversas para chegar no conceito que seria abordado nesse clipe?

Eu já conhecia a Alice Pellegatti (produtora), tinha feito uns trabalhos pra ela quando ela trabalhava na Sony, ainda nos anos 90. Alice gostava do clipe dos Racionais e um pouco do meu olhar. Ela estava ajudando na (gravadora) Deck, participou ativamente do lançamento da Pitty e me indicou pro Rafael (Ramos).

 

Lembro quando o Rafael me mandou a demo da Pitty. Na verdade não era a demo, era um vídeo release do disco e a música Máscara. Eu achei incrível! Tipo, uma roqueira, mulher, e toda a atitude da Pitty, por ser um artista baiana que eu desconhecia totalmente mas que curti muito, pelo pouco que eu vi nesse primeiro momento.

Diversidade, liberdade e estranheza são algumas palavras que remetem ao clipe de Máscara. O clipe foi fundamental para apresentar o que seria o álbum ACN ao grande público. Isso funcionou tão bem que resultou os trabalhos seguintes: Admirável Chip Novo, Teto de Vidro, Semana que Vem e I Wanna Be. Quais foram os desafios e quais histórias você pode trazer dessas produções seguintes?

Foi um desafio porque Máscara era uma música um pouco mais comprida, era uma música muito punk, uma proposta muito forte que me instigou de prima. A gente teve um contato, uma sintonia superlegal. A Pitty gosta de coisas que eu também gostava como Kubrick, David Lynch, algumas referências de estéticas, de fotografia, de filmes e a gente foi trocando ideia.

 

Curto o processo que eu tinha com a Pitty, de criação e de colaboração, porque eu acho que a Pitty é uma artista que sabe muito o que é bom pra ela mesma, do que é importante pro seu trabalho, do que representa ela. Ela é uma artista que trabalhou muito a imagem e sabe muito bem o quanto a imagem é importante pra traduzir a potência, a atitude, o que ela pensa, o que ela acredita. Ela é uma artista muito inteligente e com muitas referências e que sabia muito o que queria. Então a gente acabou fazendo alguns trabalhos juntos.

 

Máscara que foi um clipe muito forte, eu dei a ideia do freakshow e ela adorou. A gente foi meio que numa sintonia se entendendo né?

 

Depois o Admirável Chip Novo, que a gente acabou ganhando o prêmio no VMB, e que eu até faço uma ponta, né? No final do clipe eu sou o controlador que desliga os robôs – a banda tocando - e no final eu também sou desligado, por conta do sistema que nos monitora, né? Era uma crítica e enfim, eu fiz essa participação.

 

Fiz o Teto de Vidro também, que tem aquele cenário de espelho e que também foi um clipe que deu muito certo por conta de estar nessa produtora que eu trabalhava que tinha muita estrutura e que acabou ajudando muito.

 

Semana Que Vem, já foi um clipe mais trabalhado, um clipe com mais orçamento, que ele vinha duma ideia inicial da Pitty, duma vontade, aí a gente acabou propondo outras coisas e foi foda demais. Eu me lembro da filmagem porque acho que a letra tinha muita força e a Pitty passou na filmagem por um processo muito punk de envelhecimento, né? De ficar horas sentada numa cadeira de maquiagem com plotter no rosto. Além da coisa física de que ela sofreu, tem a coisa psicológica de envelhecer e de lembrar do que ela passou até chegar ali. Então eu lembro que na filmagem numa cena que ela tá dentro do carro e tá chovendo, ela tá cantando ela se emociona muito e começa a chorar enquanto ela canta. Uma puta atitude e eu lembro que olhei em volta estava todo mundo chorando também, uma força incrível que foi esse momento.

 

Depois eu ainda fiz I Wanna Be, foi um clipe que chamou um monte de amigo, fomos para um uma casa de show pequena aqui em São Paulo, um monte de amigos na plateia, várias câmeras mais sujas, várias pessoas gravando, super quente, um calor absurdo, foi um clipe mais roots mesmo.

 

E fiz o DVD também! O Admirável Vídeo Novo, que foi muito foda, com uma gravação no estúdio no Rio com a banda tocando algumas versões, um pedaço do show do Festival de Verão de Salvador em 2004. Enfim, a gente teve uma parceria muito incrível nesse disco, por muitos processos, muitas trocas, foi muito legal. Faz parte da minha carreira, e que eu tenho muito orgulho e curto muito poder dizer que eu fiz esses trabalhos.

bottom of page